IA na Saúde: Um Ponto de Inflexão na Transformação Digital
A indústria da saúde está vivendo um momento decisivo. Assim como a transição dos prontuários em papel para os registros eletrônicos de saúde (EHRs) marcou uma virada tecnológica no passado, a adoção acelerada da Inteligência Artificial Generativa (IA) representa hoje um novo ponto de inflexão — desta vez, em velocidade exponencial.
Enquanto a digitalização dos EHRs levou mais de uma década, mesmo com incentivos governamentais, a IA avançou rapidamente. Menos de três anos após os modelos de linguagem ampla (LLMs) se tornarem acessíveis ao público, a tecnologia já ocupa o centro das estratégias corporativas no setor de saúde. Startups florescem, gigantes da tecnologia firmam parcerias e profissionais da saúde começam a se beneficiar da automação de tarefas, diagnósticos mais precisos e novos modelos de cuidado.
Adoção em ritmo recorde: curiosidade virou prioridade
Uma pesquisa da Bessemer Venture Partners, em parceria com a Amazon Web Services (AWS) e a Bain & Company, entrevistou mais de 400 líderes dos segmentos de Pagadores, Provedores e Farmacêuticas. O objetivo: entender como o setor está integrando a IA Generativa às suas operações.
O estudo revelou um cenário vibrante de experimentação. Equipes internas em organizações de saúde estão criando soluções próprias, em colaboração com laboratórios de IA, provedores de nuvem e fornecedores tradicionais de TI em saúde. Ao contrário da adoção top-down dos EHRs, a transformação atual é multifocal e descentralizada — impulsionada por iniciativas internas tanto quanto por soluções externas.
Muitos pilotos, poucas implementações
Apesar do entusiasmo, a escala ainda é um desafio. Embora existam centenas de projetos de prova de conceito (POCs) em IA, apenas 30% chegam à produção, barrados por questões como:
Falta de maturidade nos dados
Riscos de segurança e privacidade
Custos altos de integração
Escassez de profissionais capacitados
Essa lacuna entre potencial e execução abre oportunidades estratégicas, especialmente para startups.
Startups: oportunidade de ouro para co-desenvolver o futuro
Embora apenas 15% dos projetos atuais envolvam aplicações verticais de IA (desenhadas especificamente para o setor de saúde), quase metade dos executivos (48%) preferem trabalhar com startups — mesmo que apenas 32% considerem suas soluções superiores às das big techs.
Esse cenário sinaliza que as startups com foco em resultados concretos e ROI mensurável têm vantagem competitiva, especialmente em um modelo emergente de aquisição baseado em co-desenvolvimento. De fato, 64% dos executivos estão dispostos a colaborar com empresas em estágio inicial, desde que elas ofereçam:
Soluções validadas
Retorno claro sobre o investimento
Integração facilitada com fluxos já existentes
A IA já é prioridade orçamentária
Talvez o dado mais revelador da pesquisa seja este: 60% dos executivos relatam que os orçamentos de IA já superam os investimentos em TI tradicional, e as decisões de financiamento estão cada vez mais centralizadas na alta liderança. Isso indica que a IA deixou de ser uma curiosidade tecnológica para se tornar um pilar estratégico.
Para onde vamos?
A revolução da IA Generativa na saúde está apenas começando. Para consolidar seu impacto, o setor precisará:
Investir em governança de dados
Criar ambientes seguros para testes e validações
Fortalecer ecossistemas de parcerias entre startups, hospitais, farmacêuticas e governos
Desenvolver regulações ágeis que acompanhem a inovação sem comprometer a segurança dos pacientes
Com implementação ética, foco em resultados e colaboração entre os atores do ecossistema, a IA pode fazer pela saúde o que o EHR prometeu — mas em um ritmo exponencialmente mais rápido e com impactos ainda mais profundos.