Saúde Digital: Separando o Sinal do Ruído
A próxima fase da saúde digital deve se concentrar em soluções que realmente funcionam e podem comprovar seus resultados clínicos e economias sistemáticas.
GSR Ventures, uma firma de investimentos focada em saúde digital em estágio inicial com mais de US$3 bilhões em ativos sob gestão, publicou recentemente uma pesquisa sobre os principais indicadores de sucesso para empresas de saúde digital. Os resultados indicam que a capacidade de demonstrar ROI e validação clínica será o principal indicador de sucesso no setor neste ano. Entre os mais de 50 investidores de venture capital em saúde digital entrevistados, quase todos consideraram o ROI “importante” ou “muito importante” para o sucesso das empresas, com 79% destacando o mesmo para evidências e testes clínicos.
Se não estivéssemos vindo de uma enxurrada de capital investido em saúde digital nos últimos anos, essa notícia dificilmente surpreenderia. Mas, em meio a um fluxo aparentemente infinito de dinheiro, grupos de empreendedores, muitos sem experiência em saúde, entraram no mercado com a mentalidade tradicional da tecnologia: mover-se rápido e quebrar barreiras. Apenas uma minoria das startups de saúde digital se preocupou em publicar uma validação clínica robusta para seus produtos, optando muitas vezes pelo caminho do bem-estar e ignorando totalmente a validação clínica. Para aquelas que se esforçaram, frequentemente adotaram a abordagem de implementar primeiro e medir depois — uma prática que contradiz décadas de experiência na área da saúde.
Na Axenya, seguimos um caminho diferente. Investimos todo nosso pré-seed (cerca de US$1 milhão, liderado por mim) e aproximadamente metade de nossa rodada seed de US$3 milhões em pesquisa. Como resultado, publicamos dados clínicos que mostram melhorias significativas tanto em métricas clínicas quanto em KPIs financeiros. Isso não é surpresa, pois a saúde digital funciona quando é bem-feita. O surpreendente é que fomos (e ainda somos) os primeiros a publicar evidências clínicas na região, começando onde se deve começar: em P&D, e não no marketing.
Agora, avançamos para 2023, e vemos uma queda de 53% no financiamento para empresas de saúde digital, partindo do pico histórico de quase US$17 bilhões no segundo trimestre de 2021. Varios atores do mercado esperam que o total investido em 2024 fique em torno de US$20 bilhões. É surpreendente, então, que pesquisa clínica e ROI se tornem mais relevantes? Essa sempre foi a base da ciência e da saúde desde o princípio dos tempos.
A próxima fase da saúde digital e dos investimentos no setor deve se concentrar em separar soluções que realmente funcionam e podem comprovar seus resultados clínicos e economias sistemáticas daquelas que não conseguem sustentar suas alegações de eficácia. Creio que isso seja um progresso bem-vindo.