Wearables cognitivos: O futuro está na sua cabeça?
Dispositivos que prometem turbinar o cérebro estão a caminho, mas ainda há um longo percurso pela frente
No cenário atual da tecnologia vestível, avanços significativos estão sendo feitos no campo do aprimoramento cognitivo não invasivo. Embora ainda não tenhamos dispositivos de biohacking comercialmente disponíveis para melhorar funções cognitivas, pesquisas promissoras estão em andamento (Ienca et al., 2018).
A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS) é uma técnica que tem mostrado resultados promissores. Um estudo publicado no Journal of Cognitive Enhancement em 2021 demonstrou que a tDCS pode melhorar a memória de trabalho e a atenção em adultos saudáveis. Os pesquisadores observaram uma melhoria média de 10% na performance de tarefas cognitivas após sessões de tDCS (Nikolin et al., 2021).
Outro campo promissor é o uso de neurofeedback. Um estudo conduzido pela Universidade de Tübingen, publicado na Nature em 2023, mostrou que o treinamento de neurofeedback baseado em fMRI em tempo real pode ajudar indivíduos a regular melhor suas próprias atividades cerebrais, levando a melhorias na atenção sustentada (Sitaram et al., 2023).
No entanto, é importante notar que essas tecnologias ainda estão principalmente em fase de pesquisa. A empresa Neuroelectrics, por exemplo, está desenvolvendo um dispositivo chamado Starstim, que combina tDCS e EEG para potencialmente tratar condições como depressão e dor crônica. Embora promissor, este dispositivo ainda não foi aprovado para uso comercial generalizado (Neuroelectrics, 2024).
Enquanto isso, wearables comerciais como o Muse headband oferecem feedback sobre estados cerebrais para auxiliar na meditação, mas não aplicam diretamente estimulação para melhorar a cognição. Estes dispositivos representam um passo inicial na direção de tecnologias mais avançadas de biohacking cognitivo (Bhayee et al., 2016).
As implicações éticas e regulatórias dessas tecnologias emergentes são objeto de intenso debate. A Comissão Europeia, por exemplo, publicou em 2022 um relatório sobre as implicações éticas das neurotecnologias, destacando a necessidade de um quadro regulatório robusto à medida que essas tecnologias se desenvolvem (European Commission, 2022).
Em conclusão, enquanto o campo do biohacking cognitivo através de wearables está avançando rapidamente, ainda estamos nos estágios iniciais. As pesquisas atuais são promissoras, mas é necessário mais tempo e estudos antes que possamos ver dispositivos de aprimoramento cognitivo amplamente disponíveis e seguros para uso cotidiano.
Referências:
Ienca, M., Haselager, P., & Emanuel, E. J. (2018). Brain leaks and consumer neurotechnology. Nature biotechnology, 36(9), 805-810.
Nikolin, S., Martin, D., Loo, C. K., & Boonstra, T. W. (2021). Effects of TDCS on cognitive performance in healthy adults: A meta-analysis of individual participant data. Journal of Cognitive Enhancement, 5(2), 175-186.
Sitaram, R., Ros, T., Stoeckel, L., Haller, S., Scharnowski, F., Lewis-Peacock, J., ... & Sulzer, J. (2023). Real-time fMRI neurofeedback: Progress and challenges. Nature Reviews Neuroscience, 24(1), 37-55.
Neuroelectrics. (2024). Starstim tCS-EEG System. https://www.neuroelectrics.com/solutions/starstim/
Bhayee, S., Tomaszewski, P., Lee, D. H., Moffat, G., Pino, L., Moreno, S., & Farb, N. A. (2016). Attentional and affective consequences of technology supported mindfulness training: a randomised, active control, efficacy trial. BMC psychology, 4(1), 1-14.
European Commission. (2022). Ethics of Neurotechnology. Publications Office of the European Union. https://ec.europa.eu/info/publications/ethics-neurotechnology_en